A idéia de eliminar a mineração da blockchain Ethereum era antiga
Em 2011, alguns desenvolvedores começaram a se preocupar com a energia que o PoW exigiria em escala (sem considerarem que a energia poderia vir de fontes renováveis como a energia solar).
Poucos anos depois, as empresas de mineração de Bitcoin já estavam se tornando grandes negócios, e havia medo de que essa mudança impactasse negativamente o crescimento do usuário.
A ideia inicial de PoS foi recebida com ceticismo, em parte porque levaria muito tempo para implementar uma versão que os desenvolvedores concordassem ser segura.
Some-se a este ceticismo, o white paper publicado pelo Bitfury Group em setembro de 2015, que explorava as diferenças entre PoW e PoS e apontava os vetores de ataque que poderiam ter destruído as primeiras versões “ingênuas” do PoS.
Ainda assim, os desenvolvedores do Ethereum continuaram trabalhando em uma alternativa para o PoS.
Pois bem, após o trabalho ter passado por muitas interações, finalmente se materializou em uma ideia conhecida como ‘Casper‘ que, em maio de 2016 foi descrita pelo criador do ethereum, Vitalik Buterin, como “consensus by bet” (consenso por aposta), numa palestra para apenas 40 pessoas em maio de 2016, na sede da startup de bitcoin “Coinbase” em São Francisco.
E como disse o próprio Vitalik, à Fortune em maio de 2021: “[Pensamos] que levaria um ano para [implementar] o POS… mas na verdade [levou] cerca de seis anos”
Para o completo entendimento deste artigo é necessário que você já saiba o que é consenso em uma blockchain e porque a mineração é o mecanismo de consenso mais usado até agora.
O que foi “the Merge” do Ethereum? Como ele afeta o usuário?
Conhecida como “The Merge”, a atualização do Ethereum substituiu a camada de consenso real de prova de trabalho - PoW, também conhecido como mineração - por um consenso de prova de participação - PoS, Proof of Stake -, que é mais econômico e, supostamente, mais eficiente em capital e energia.
Dito de outro modo, como usuário regular, sua experiência com o Ethereum não mudará. “A Fusão” - the Merge, em inglês - é uma atualização na camada de consenso da rede, enquanto a camada de dados/aplicativos não será afetada.
Isso significa que aplicativos descentralizados dApps utilizados nos negócios, protocolos e contas que existiam antes da fusão continuaram a existir e funcionando exatamente da mesma maneira que antes.
Além disso, o gerenciamento do pool de transações já vinha sendo executado pelas regras EIP 1559 - que alterou o mecanismo de cálculo da taxa de transação no blockchain Ethereum - e “The Merge” também não o modificou.
O The Merge afetou apenas como os validadores - que substituiram a figura do minerador - chegam a um acordo sobre quais transações farão parte da história do blockchain.
Antes do the Merge, a Beacon chain já tinha feito todo o trabalho
Muitos não perceberam que antes do the Merge ser concretizado, o PoS já estava funcionando na rede Beacon.
Quando ocorreu o the Merge, a rede principal (mainnet) atual da blockchain Ethereum se fundiu com o mecanismo de consenso da rede Beacon. É daí que vem o nome the Merge [a “Fusão”, em português].
Isso marcou o fim da mineração [PoW, Proof of Work] para o Ethereum e a transição completa para PoS, que consome 99% menos energia, e abre caminho para que a rede Ethereum escale e potencialmente atinja 100.000 transações por segundo.
O que muitos não sabem é que todo o trabalho pesado de pesquisar, especificar e desenvolver um novo mecanismo de consenso já estava totalmente pronto na rede Beacon, antes da fusão.
Mas o que realmente aconteceu após o the Merge? Como há muitas dúvidas sobre o que realmente foi implementado com a fusão, a seguir, esclareceremos …
As principais dúvidas após o the Merge
1 – Porque o the Merge não reduziu as taxas de gás?
Muitos tinham esta ‘falsa concepção” de que as taxas de gás cairiam após o the Merge. E a razão deste mal-entendido se deu porque as taxas de gás eram pagas aos mineradores e, assim, as pessoas concluíram equivocadamente que a substituição dos mineradores pelos validadores deveria baixar as taxas de gás. Mas isso não aconteceu.
Para compreender melhor, vamos imaginar que a linha de ônibus que você usa para trabalhar seja adquirida por outra empresa. Independente de qual empresa de ônibus presta o serviço, você ainda precisa pagar o preço da passagem toda vez que usa o transporte, apesar de seu dinheiro ir para uma empresa diferente. O raciocínio após a mudança de proof-of-work para proof-of-stake (the Merge) é o mesmo.
A mudança no mecanismo de consenso do Ethereum não expandirá a capacidade da rede.
As taxas de gás são um resultado da demanda em relação à capacidade da rede e, para solucionar a questão das altas taxas, esforços estão sendo concentrados em escalar a atividade do usuário na camada 2.
2 – Porque as transações não ficaram mais rápidas após a fusão?
Esta ideia é falsa. A velocidade de transação após o the Merge, na maioria das vezes, permaneceu a mesma. A “velocidade txn” pode significar tempo para ser incluído em um bloco ou tempo para finalização. Ambos mudaram ligeiramente, mas não de uma forma “perceptível”.
É verdade que uma das promessas do Ethereum 2.0 era a de escalar, e Vitalik Buterin afirmou que a rede será capaz de processar 100.000 transações por segundo.
No entanto, the Merge é apenas a primeira etapa de cinco fases do desenvolvimento do protocolo Ethereum. Com o upgrade Ethereum Dencun, estamos na fase the Surge. Veja aqui:
Como apontado no 2022 State of Crypto Report, pelo menos por agora, o Ethereum priorizou a descentralização ao invés da escalabilidade, o que é acertado quando consideramos o “blockchain trilemma”.
No espaço blockchain, as pessoas frequentemente se referem a um “Trilema”, onde blockchains geralmente podem ter apenas duas das três propriedades a seguir: escalabilidade (isto é, desempenho em termos de velocidade e volume), descentralização ou segurança.
Isto é, no estágio atual de desenvolvimento da tecnologia blockchain, se um protocolo blockchain der prioridade à descentralização e à segurança, ele será menos escalável.
3 – Porque era falsa a idéia de que the Merge causaria paralisação da rede?
A atualização the Merge foi projetada para fazer a transição para o proof-of-stake com tempo de inatividade zero.
Uma imensa quantidade de trabalho foi investida para garantir que a transição para o novo mecanismo de consenso não perturbasse a rede ou seus usuários.
Muitas atualizações e testes têm sido feitos desde que a idéia da migração do proof-of-work para proof-of-stake surgiu lá em 2011.
Um exemplo disto foi a implantação do teste Goerli/Prater, anunciada pela Ethereum na época - uma espécie de “the Merge-teste final” que foi concluído no início de agosto, antes da tão esperada transição do Ethereum para o mecanismo de consenso conhecido como proof-of-stake.
4 – O que aconteceu com o ETH2?
Antes, The Merge era conhecida como “Ethereum 2.0” ou “Eth2”.
Muitos golpistas passaram então a tentar convencer os usuários de que haveria um novo token “Eth2” separado do ETH, o que era falso.
No entanto, o the Merge no Ethereum não criou um novo token Ethereum. O token nativo do Ethereum, Ether (ETH), permaneceu o mesmo.
Dito de outro modo, embora o “ETH 2” tenha sido um termo muito usado até 2022, o the Merge não surgiu nenhum novo ativo ETH associado à The Merge. Seu ETH existente funciona exatamente como sempre funcionou e não foi afetado.
Assim, devido à “confusão” em torno de um “novo” token, a Ethereum Foundation emitiu orientações esclarecendo sobre como a atualização The Merge deveria ser citada.
5 – Se não reduziu taxas, qual principal benefício do the Merge?
Após o the Merge, o blockchain Ethereum viu uma redução de 99,95% no gasto energético utilizado para proteger a rede.
Desde 1977, acordos internacionais firmados com o objetivo de se reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa e o consequente aquecimento global (como o Protocolo de Kyoto e o Acordo do Clima de Paris) têm atraído considerável atenção da mídia para a necessidade de implementar mecanismos para conter os riscos ambientais.
Não à toa, o Fórum Econômico Mundial em 2020, com base em 10 anos de pesquisa, publicou seu Relatório Anual de Riscos Globais e destacou, pela primeira vez, que os cinco principais riscos globais em termos de probabilidade são todos ambientais.
Embora muitos vejam isto apenas como “mais um argumento dentre outros”, fato é que a mudança climática é um dos maiores desafios que a humanidade como um todo está enfrentando no momento.
Com o aumento da temperatura, a propagação de incêndios e o fracasso das plantações devido à seca, a mudança climática já se tornou uma questão política cada vez mais importante. Tanto que alguns países começaram a introduzir regulamentações às criptomoedas com alto consumo energético.
A mudança para proof-of-stake (PoS) pode afetar a “política monetária” do Ethereum?
Uma vez que os stakers (além dos mineradores de hoje) não são obrigados a amortizar seus investimentos, a emissão de novos ETH pode ser muito menor e as pessoas ainda são incentivadas a participar.
Assim, as recompensas por staking são cerca de 90% mais baixas do que as recompensas do bloco quando a mineração estava em vigor na Ethereum. Isso – juntamente com o atual mecanismo de queima das taxas de base – reduzis a inflação para algo muito próximo a zero ou mesmo a valores negativos. Bom para todos os usuários que retêm (hold) o Ether.
Além disso, o tempo de abertura no PoS é fixo em 12 segundos, o que é um pouco menor do que o tempo médio atual do bloco. E isto traz um ligeiro aumento no rendimento da rede.
Portanto, houve um pequeno efeito positivo no rendimento e, portanto, nas taxas de gás - embora as taxas de gás sempre dependam do uso total.
E você, o que pensa sobre a necessidade de redução no gasto energético nos mecanismos de consenso? Achava que as taxas de gás ficariam mais baratas após a fusão?
Conhecimento é poder!! Nos vemos em breve!