EM RESUMO: Como uma unidade de bitcoin é identificado na rede blockchain? O que significa ser seu próprio banco? Hotwallet Vs. Coldwallet. Prós e contras da autocustódia. Qual o melhor tipo de custódia pra você?
Os bancos surgiram por uma única razão: eles são especializados em custódia de ativos e segurança.
Por isso, para que o Mercado Cripto possa realmente alcançar, na prática, a promessa do Bitcoin, da tecnologia Blockchain e da criptografia, e possibilitar que as pessoas administrem seus próprios ativos em uma Web descentralizada, algumas questões ainda precisam ser resolvidas:
Como pessoas comuns podem fazer a autocustódia de seus ativos com segurança? Quais responsabilidades você está assumindo quando decide custodiar seu patrimônio, sem utilizar um intermediário? É possível qualquer pessoa alcançar um nível de segurança igual ou melhor que uma instituição financeira?
São estas perguntas que buscaremos responder neste artigo.
O caso do britânico James Howell
A máxima mais famosa do mundo Cripto é, sem dúvida:
“Not Your Keys, Not your Crypto” – “sem suas chaves privadas, sem suas criptomoedas”.
Mas você sabe o que isto significa na prática.
Como nada melhor que um exemplo para compreender algo, vamos usar o caso do britânico James Howell para explicar uma das maiores dores de cabeça para os portadores de criptomoedas: o risco de usabilidade.
Enterrado em algum lugar sob um metro e meio de lama e lixo, no aterro sanitário Docksway, perto de Newport, País de Gales, em um espaço do tamanho de um campo de futebol, está um disco rígido de computador avaliado hoje em mais de US$ 480 milhões.
Ele pertencia a James Howells, que o jogou fora quando estava arrumando sua mesa e descobriu o HD fora de uso, resgatada de um laptop Dell. Ele o encontrou em uma gaveta e em seguida a colocou em uma lixeira.
Howells gerou a sua carteira digital no início de 2009, quando a primeira criptomoeda era conhecida apenas nos círculos de tecnologia.
Naquela época, alguns meses após seu lançamento, era relativamente fácil "minerar" a moeda digital, criando “dinheiro" efetivamente por meio da computação: Howells executou um programa em seu laptop durante uma semana para gerar seu estoque.
Hoje em dia, fazer o mesmo exigiria um poder de computação extremamente caro.
Esse disco rígido perdido, no entanto, contém a "chave privada" criptográfica necessária para acessar e gastar os bitcoins de Howell; sem ela, o “criptoativo" está perdido para sempre.
E Howells não tinha um backup.
Howells parou de minerar depois de uma semana porque sua namorada reclamou que o laptop estava ficando muito barulhento e quente enquanto executava os programas para resolver os complexos problemas matemáticos necessários para criar novos Bitcoins.
Em 2010, o Dell XPS N1710 quebrou depois que ele acidentalmente derrubou limonada nele, então ele o desmontou para obter peças. A maioria foi jogada fora ou vendida, mas ele manteve o disco rígido em uma gaveta da escrivaninha durante os três anos seguintes, até aquele fatídico dia em 2012 em que ele fez a limpeza.
Só em 2013, Howell percebeu que o HD descartado continha sua carteira digital com 7.500 Bitcoins.
"Sabe quando você coloca algo na lixeira e, na sua cabeça, diz para si mesmo 'isso é uma má ideia'? Eu realmente tive isso", disse Howells, que trabalha com TI, e teve o primeiro contato com bitcoin em 2009 - após o lançamento da rede Blockchain Bitcoin.
Não é de hoje os casos envolvendo perdas de bitcoin [BTC] por causa de esquecimento de senhas, pendrives extraviados e similares.
O descuido de Howell ilustra o que é conhecido como “risco de usabilidade” e nos mostra como a quase totalidade dos problemas narrados pelos meios de comunicação envolvendo a aquisição de criptoativos tem sua origem - não nos criptoativos, ou na tecnologia blockchain em si, mas … - na falta de cuidados especiais e na necessária mudança de atitude de quem deseja experimentar todas as vantagens proporcionadas por criptoativos como o bitcoin.
Como um bitcoin é identificado na rede blockchain?
A blockchain é a estrutura que possibilita as transações de criptoativos e funciona com um par de chaves exigidas em todas as transações. Uma chave pública, que se parece com um número de conta bancária, e outra, privada, composta por até 78 números aleatórios ou 256 bits na linguagem computacional que pode ser comparada ao PIN ou a uma senha de banco.
Um Bitcoin, por exemplo, é a representação de uma unidade monetária na rede de blockchain Bitcoin sem qualquer vínculo ao mundo físico, nem representação física em metal ou cédulas impressas em papel.
Uma unidade de Bitcoin é identificada na rede blockchain por uma chave pública, uma chave privada e um endereço público, e essas três informações possibilitam que as criptomoedas sejam transacionados na rede.
A chave privada é, portanto, uma espécie de senha que possibilita a seu detentor assinar as transações na rede e enviar Bitcoins para outra pessoa. Ela possibilita as transferências de uma pessoa para outra e, deste modo, quem possuir a chave privada de determinados Bitcoins pode enviá-los para quem quiser.
Como armazenar criptos?
Basicamente, você pode armazenar seu Bitcoin de duas maneiras: autocustódia e contratando um custodiante, ou seja, custódia por terceiros.
Neste último caso, você confia a uma empresa – como a Coinbase ou a Anchorage, entre outras – o armazenamento de seu bitcoin, e são eles que têm o controle sobre sua chave privada.
Na autocustódia, você mesmo assume a custódia de seus Bitcoin e tem o controle total deles. Isso significa que é você quem gerencia sua própria chave privada – no jargão popular do mundo cripto, isto é chamado de “você é seu próprio banco”.
Essa é a origem da frase “Not Your Keys, Not Your Crypto”:
Se você não controla a chave privada, suas criptos não lhe pertencem de fato.
O contrário, nesse caso, também é verdade: “Your Keys, Your Crypto” (“suas chaves privadas, suas criptomoedas”). Se é você quem detém as chaves privadas, é você o único responsável pelo armazenamento adequado de suas criptomoedas. E, se perdê-las, não há como recuperá-las. Não há um Help Desk ou um gerente pra te ajudar.
Qual o melhor tipo de custódia para você?
Optar entre custódia por terceiros e autocustódia se resume a duas perspetivas: confiança e ataques.
Sob a perspectiva da confiança, em quem você confia? Em uma empresa para guardar seus bitcoins ou você confia mais em si mesmo?
Já sob a ótica dos ataques, do que você está tentando se proteger?
As exchanges são um pote de mel para os cibercriminosos, e os governos podem forçar as empresas a congelar fundos ou penhorar criptos que estejam em suas contas.
Por outro lado, os métodos de autocustódia estão sujeitos a erros, invasões e desastres naturais como terremotos, enchentes, incêndio em casa, etc.
Vejamos então, de forma mais objetiva, os prós e contras de você mesmo fazer a custódia de seus criptoativos.
Desafios e as vantagens da autocustódia
A principal vantagem da autocustódia:
Na autocustódia é você quem está no controle total de suas criptos.
Ninguém pode tirá-las de você se estiverem adequadamente armazenadas em uma carteira digital [hardwallet], e você é livre para fazer o que quiser com elas.
A autocustódia protege os detentores de cripto do confisco e ataques cibernéticos, como hacks, em entes centralizados.
Por outro lado, a desvantagem é que você pode perder suas criptos se não as armazenar corretamente.
Um erro comum é não fazer o backup da ‘seed’. Isso é importante porque é a única fonte de socorro caso haja uma falha no hardware onde elas estão armazenadas. Ela norlmalmente consiste em 12 a 24 palavras que precisam ser armazenadas em um lugar seguro.
Se alguém encontrar seu backup, poderá se apropriar de suas criptos.
Por isso, quem possui cripto precisa criar configurações mais elaboradas para o caso de o backup ser encontrado.
No entanto, isso às vezes pode resultar em perda de criptos por erro humano, como no caso de James Howell, e, principalmente, para quem tem problemas para lembrar senhas.
Outro erro de backup é anotá-lo em um papel, que pode ser facilmente perdido, danificado ou destruído.
É por isso que a melhor maneira de evitar dores de cabeça e a perda total de suas criptos é armazenar o backup em titânio ou aço, usando dispositivos Cryptosteel ou Cryptotag, como Zeus, Odin, dentre outros.
Carteiras digitais, as famosas ‘wallets’
Hotwallet Vs. hardwallet
É possível ter uma carteira de autocustódia conectada à Internet – chamada de hot wallet (carteira quente). As que não se conectam se chamam hard wallet (carteira fria).
As hot wallets têm o inconveniente de estarem mais sujeitas a ciberataques. Por este motivo, é aconselhável que apenas as moedas cujo uso seja necessário no dia a dia sejam armazenadas nelas. Todas as outras devem estar na hard wallet.
Hardware wallet vs cold storage wallet
As wallets de armazenamento a frio - ou simplesmente cold wallets - são um tipo específico de hardware de carteira de criptografia.
Talvez a diferença mais importante entre uma cold wallet e uma hardware wallet seja que as cold wallets oferecem uma camada adicional de segurança para proteger os ativos do usuário.
Ao considerar o que é uma carteira de armazenamento a frio, os usuários devem entender que elas são completamente desconectadas da Internet e não envolvem nenhuma interação com a Web3 - e, portanto, não executam contratos inteligentes em blockchains.
Em vez disso, essas carteiras trabalham em conjunto com carteiras ativas para executar transações. Em muitos casos, é possível criar uma cold wallet em um hardware de carteira de criptografia existente e usá-la para assinar transações por meio da carteira ativa.
Como operam totalmente off-line e não têm interação com a Web3, as cold wallets são consideradas o tipo mais seguro de carteira de criptomoedas.
Como fazer autocustódia com segurança
É simples armazenar Bitcoins com segurança em uma carteira fria:
Compre Bitcoin;
Compre uma carteira de hardware:
Simples: Ledger ou Trezor;
Complexa: Coldcard;
Faça um backup em titânioxcix ou aço.
Transfira a quantidade de cripto que você se sinta seguro para custodiar por si mesmo.
Uma das principais características das criptomoedas é a resistência á censura: nenhuma autoridade pode confiscar sua riqueza. Ninguém pode censurar suas transações.
O outro lado desta moeda é que, se você errar, alguém conseguir invadir sua carteira, encontrar uma falha na segurança cibernética de seu dispositivo ou se você perder suas chaves, não há ninguém que possa lhe devolver suas criptos e seu patrimônio investido nelas.
Um único erro pode ser catastrófico e, infelizmente, muitas pessoas já fizeram isso ao longo dos anos. São inúmeros os relatos e fracassos documentados e, provavelmente, há ainda muitas histórias que não foram documentadas, porque as pessoas têm vergonha de falar.
Não podemos tapar o sol com a peneira: autocustodiar criptomoedas possui riscos, exige conscientização e uma mudança de paradigma. Você está preparado?
Pense nisto até nosso próximo encontro. Nos vemos em breve!